“Vou seguir uma visão que Deus me deu, só o tempo irá mostrar a vocês, eu não vou falar nada agora, não vou explicar, não estou pedindo pra ninguém fazer o que eu estou fazendo, esta é uma decisão minha”. Estas foram as palavras usadas pelo Pastor Silas Malafaia, ao anunciar o seu desligamento da Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil (CGADB), e a criação de um ministério independente, a igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
Seguir uma visão de Deus tem sido a aspiração e o argumento de muitos pastores que se afastam de sua convenção e criam ministérios independentes, em busca de liberdade e autonomia para trabalhar na obra de Deus. O Vice Presidente da Convenção Batista Nacional (CBN) de Minas Gerais e, pastor da sede da Igreja Batista do Calvário, de Governador Valadares,Neirson Alves destaca uma das razões apontadas pelos que optam pela desfiliação. “Podemos destacar a centralização do poder. Às vezes, lideranças despreparadas tornam algo tão bonito e bom em poder dominador, não respeitando as individualidades das lideranças locais”.
A rigidez do sistema é para oPresidente do Sínodo Rio Doce da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), Reverendo Eneziel Peixoto, outro fator que leva a desfiliação. “Na nossa Igreja, por exemplo, as competências e atribuições de cada um são muito bem delimitadas, pastores, presbíteros, Conselhos de Igrejas, Presbitérios, Sínodos e Supremo Concílio. Nenhuma dessas pessoas ou instâncias pode extrapolar”.
Cada igreja, enquanto associação possui um estatuto com normas, direitos e deveres que regem o trabalho dentro da organização. “Temos uma Constituição bem detalhada, que oferece garantias, mas também impõe limites. Isso incomoda a alguns que querem realizar ministérios mais livres”. Afirma o Reverendo ao se referir ao estatuto da IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil).
A Escolha
Foi exatamente a falta de liberdade, para trabalhar que fez com que o Apóstolo Hélio Correia, pastor a 21 anos da Igreja Batista Central, localizada na cidade de Mantena, a cerca de 140 km de Governador Valadares, se desligasse da convenção e torna-se a igreja Batista Central um ministério independente. “Infelizmente algumas denominações prendem muito suas igrejas impedindo-as de acompanhar certas estratégias e modelos que Deus tem revelado neste tempo. Respeito às denominações, penso que cada uma pode até ter seu papel, mas Deus é dinâmico e tem um mover, uma estratégia específica para cada igreja, para cada cidade e as denominações deveriam respeitar isso”.
“Eu me preocupo com as almas”,desabafa o pastor Marcos Luiz, da Igreja Evangélica Anunciai que há três anos cultiva um ministério independente. Ficar mais ocupado com a obra de Deus, para ele, é o grande legado de sua escolha. “O homem pensa muito no dinheiro e esquece as almas, ser independente é preocupar-se com as almas”. Entre as conquistas alcançadas neste tempo de ministério independente o pastor cita algumas. “As conquistas foram várias, entre elas o aumento no número de membros, a compra do imóvel da igreja e a organização de todos os departamentos”. Segundo o pastor Marcos Luiz, quando era ligado a sua antiga denominação a igreja possuía 90 membros, hoje, após três anos de ministério independente, a igreja conta com 270 membros associados.
Para o Apóstolo Hélio Correia, ser independente, não significa caminhar sozinho. Segundo ele mesmo não fazendo parte de uma denominação, pastores e igrejas não devem viver isolados.“Temos a Cobertura Espiritual de um Pastor, que é exercida através de aconselhamento, cooperação e cuidado, porém, este não interfere na administração e nas decisões da igreja ou em suas estratégias, portanto não estamos isolados.” Assegura o Apóstolo que também trabalha oferecendo cobertura espiritual. “São 13 igrejas e 15 pastores em vários estados do Brasil. Somos uma equipe que se relaciona, coopera mutuamente, realiza congressos e eventos, mas cada um tem sua meta, sua maneira de administrar a igreja local e aprendemos a viver em amor e unidade.”
“O intercâmbio com outras igrejas e com outros pastores é sadio e construtivo. Ninguém é uma ilha”. Estas são palavras de quem já viveu os dois lados da história. Éder de Oliveira Sales e Árlen G. Neves pastoreiam a Igreja Batista o Caminho em Governador Valadares, a mais de 15 anos, segundo eles a igreja em sua fundação, em 1988 se chamava Igreja Evangélica o Caminho. E embora se tratasse de um ministério independente, era uma igreja com raízes batistas, passadas por seu fundador, o saudoso Pr. Amílcar Magalhães.
Os pastores Éder e Árlen também tiveram influências batistas durante a graduação, fato, segundo eles, fundamental. “As influências batistas, foram decisivas para que, posteriormente, nos filiássemos à Convenção Batista Nacional. Entendíamos também que, como igreja independente, ficávamos muito isolados. Com o ingresso na Convenção, abriu-se um leque maior de oportunidades para participação nos trabalhos convencionais destinados à juventude, aos homens, mulheres e pastores”.
Seguindo os passos
A mesma solidez que “sufoca” alguns significa o “porto seguro” daqueles que decidem cruzar o caminho traçado pelas grandes denominações.“Atuamos dentro de um sistema federativo, isso garante solidez organizacional, redundando em segurança tanto para as comunidades locais quanto para os pastores, além de gerar credibilidade, a filiação a uma grande e respeitável denominação é importante; porém, é preciso estar preparado, pois isso implica em submissão”.Afirmao Reverendo Eneziel Peixoto.
“Uma denominação é composta de várias Igrejas, portanto, quando um membro se muda para outra cidade ele será recomendado a pertencer uma igreja com as mesmas características da sua de origem. Somos cooperadores da denominação e assim num esforço conjunto podemos chegar mais longe, através da obra missionária mantida pela denominação”.Garante o Vice Presidente da (CBN/MG) pastor Neirson Alves Ferreira,ao falar das vantagens de se ter uma igreja ligada a uma grande Convenção.
Ao fazerem o caminho inverso, saindo de um ministério independente e se ligando a uma grande denominação, os pastores Éder de Oliveira Sales e Árlen G. Neves buscavamuma forma de resguardar a igreja e seus membros.“No que se refere à igreja, o respaldo estaria no fato de que ela não ficaria à mercê de líderes personalistas que, a seu bel-prazer, fariam as coisas sem integridade administrativa, financeira, teológica e doutrinária. Já no tocante ao respaldo ministerial, vimos que desfrutaríamos do pastoreio de outros pastores, através da Ordem dos Ministros Batistas Nacionais, ORMIBAN. Hoje, passados alguns anos, vimos que aquela fora uma decisão acertada”.
Independentes ou não todos partilham de uma mesma opinião, nenhuma igreja ou pastor deve caminhar sozinho, seja através do respaldo oferecido pela denominação, ou pelo aconselhamento de outros pastores, é necessário estar em comunhão para realizar a obra de Deus.
Organizando uma associação
José Ângelo de Souza(**), é pastor e advogado, em sua empresa presta assessoria jurídica e contábil a várias igrejas independentes. Segundo ele para se organizar ou constituir uma igreja é preciso entender primeiro que se trata de uma associação. “A igreja é uma entidade de direito privado, dotada de personalidade jurídica e caracterizada pelo agrupamento de no mínimo oito pessoas, unidas para a realização de objetivos e ideais comuns, sem finalidade lucrativa”.
Para constituir uma igreja certos documentos são indispensáveis como explica o pastor José Ângelo. “Toda igreja organizada deve, imprescindivelmente ter todos os seus documentos legalizados junto aos órgãos públicos a nível Municipal, Estadual e Federal, isso faz toda a diferença para que não haja multas que hoje são bem altas”. Segundo pastor, oito passos são necessários para que o ministério independente seja legalizado e se torne uma associação, são eles:
1. Elaboração e discussão do Estatuto Social; aqui é importante a presença de um Advogado e Contador;
2. Assembléia Geral de constituição da Associação;
2. Assembléia Geral de constituição da Associação;
3. Obtenção de inscrição na Receita Federal - CNPJ;
4. Registro da entidade no INSS;
5. Registro na Prefeitura Municipal;
6. Documentos do Presidente e membros que assinam atas e estatutos sociais;
7. Cópia autenticada CPF, RG e Comprovante de Residência de todos;
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